terça-feira, 18 de novembro de 2008

Il Grido di Antonioni

Michelangelo Antonioni nasceu em Ferrara, em 1912, no seio duma família de classe média, e cresceu nos arredores da província italiana. Morreu em Roma a 30 de Julho de 2007, no mesmo dia de Ingmar Bergman. Apesar de ter estudado ecónomia e comércio, também escrevia para o jornal local e em 1939 mudou-se para Roma, onde escreveu para o jornal Cinema e, ao mesmo tempo, tirou o curso de realização. Tornou-se numa das principais figuras do Neo-Realismo italiano juntamente com Rossellini e Visconti, como impulsionador e executante, com algumas curtas semi-documentariadas. Os seus primeiros três filmes claramente influenciados pelas suas raízes burguesas já fujiam um pouco do estilo neo-realista ao expôr duma maneira menos simpática a classe média. A sua quarta longa metragem é Il Grido, de 1957, e precede a trilogia com que atingiu o sucesso mundial (L'Avventura (1960), La Notte (1961) e L'Eclisse (1962)), levando a que mais tarde fosse trabalhar no estrangeiro, nomeadamente Reino Unido (Blow Up (1968)) e Estados Unidos (Zabriskie Point (1970)). O que marca este filme, muitas vezes subvalorizado, é o assumir da temática que o vai acompanhar durante a sua carreira: a alienação do indíviduo. A trilogia supracitada, a da alienação, ou se quisermos acrescentar o magnifico Il Deserto Rosso (1964) para completar uma tetralogia onde pontifica a sua musa Monica Vitti, são o consumar artistico do visionário italiano.
Na película de 57 acompanhamos Aldo (Steve Cochran), uma mecânico duma refinaria, que ao ser rejeitado pela mulher (Irma) com quem compartilhou adulteramente o leito durante sete anos, em vez da união consumada e por ele desejada, após o falecimento do marido de Irma (ausente durante todo esse tempo), Aldo parte com a filha de ambos (Roasina) com destino incerto, em busca de novo emprego e nova vida. Ao longo da viajem, Aldo vai encontrando várias mulheres, também solitárias e em busca de afecto, como a sua antiga amante, uma viúva dona duma estação de gasolina ou uma prostituta necessitada, que lhe dão casa e amor, mas não lhe fazem esquecer Irma nem o vazio profundo que o assola. Ao longo desta jornada que começa com um insuportável desgosto amoroso, prossegue com uma insessante busca de identidade e culmina quando a personagem se perde, ou se encontra, no seu destino, Antonioni faz-nos reflectir sobre a importância das relações e dos afectos, sobre a solidão e o porquê da nossa existência. Como dá para perceber, está lá tudo o que esperamos (ou não) dum filme dele, em longos planos sequência de personagens que vagueiam por paisagens sublimes, acompanhadas de poucos diálogos, o que Bergman uma vez chamou de cinema desinteressado e visionário. Não é uma obra-prima como outras, mais pelo argumento, mas merece um 8/10. Sobre o cinema de Antonini queria ainda dizer que usa a côr como poucos. Basta ver a expressividade que dá à imagem no seu primeiro filme colorido, o já falado, Il Deserto Rosso. Outra obra-prima a reter: Professione: Reporter (1975) com Jack Nicholson, fantástico. Em termos de influêcias: Wim Wenders, Lars Von Trier, Wong Kar-Wai ou mesmo Tarkovky, po exemplo, seguiram os seus passos. Para terminar vou dar-lhe a palavra:

Em Cannes, quando estreou L'Avventura:

"In the modern age of reason and science, mankind still lives by a rigid and stereotyped morality which all of us recognize as such and yet sustain out of cowardice and sheer laziness".
"My films explore the paradox that we have examined those moral attitudes very carefully, we have dissected them and analyzed them to the point of exhaustion. We have been capable of all this, but we have not been capable of finding new ones".

"Morality: When man becomes reconciled to nature, when space becomes his true background, these words and concepts will have lost their meaning, and we will no longer have to use them".

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