terça-feira, 9 de setembro de 2008

De Volta à Aldeia

"Saiu de casa como se voltasse a si, àquele de tempos passados, mitigados pelo travestido encanto do recanto. Levava consigo leveza, suspirava surpresa enquanto observava Obesa, a velha porca do vizinho, que se tornara a estimação da casa, quando passou o Cão a dono da mansão. Desta já pouco restava, o tempo tratou de acabar com o que o dono tentara arrasar. Desleixo, inacção, aversão ao trabalho, seja, tudo obra do vizinho, o Sr. Cão. Ficara assim conhecido na aldeia, depois de enterrar a esposa com a nova ao lado, prenhe de 6 meses. Herdou a casa, aliás, rifou-a como bom operador de tômbola que é e tem feito dela a sua cara o melhor que tem podido. Pobre diabo! Gritou. Se algum dia acreditares em ti, vais fazer do mal subsistência eterna! A Obesa levantou um pouco a cabeça, mas voltou ao enfartamento de bandulho. Não sabia bem o que proferira, nem porque o tinha feito, mas sabia-lhe bem falar, e gritar ainda mais. Àquelas horas, 9:30 para ser exacto, só havia uma coisa a fazer, coisa que aprendera com o avô, o homem mais acarinhado da terra. Enquanto caminhava em direcção ao fim, interroga-se sobre a possibilidade do velho Antunes não se encontrar mais entre os vivos, o que o privaria de uma prazenteira conversa acompanhada de “lucibreu”. Um copito pela manhã e chega a Lua ainda sã, dizia o avô. Na verdade tinha sido ele quem trouxera uma das mais raras espécies de plantas para a aldeia, uma vez que escalara os Alpes, onde elas se encontram a mais de 2000 metros de altitude. Lindas, de um amarelo sublime dão ao álcool uma doçura incomparável. O bagaço do velho Antunes dá à aldeia cor e propósito. Ninguém fica na cama e ninguem vive sem chama. Dobrada a "esquina dos lourinhos" avistava-se a casa de pasto ao fundo, com o célebre nome: Não Venhas Cá Hoje Se Não Queres Cá Voltar. Um eterno desafio que ninguém ousou jamais rejeitar."

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