sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Chuck Palahniuk - "Guts" - I

Chuck Palahniuk é um escritor norte-americano nascido em 1961 que se tornou mais conhecido depois da adaptação ao cinema do fabuloso Fight Club. Chuck tem um estilo muito próprio, uma escrita minimalista, caracterizada por frases curtas, como normalmente uma pessoa fala ao contar uma história, e um humor cáustico, cínico e irónico. Normalmente as suas personagens são indivíduos auto-destrutivos e marginalizados pela sociedade. Sempre muito controverso, ganhou a reputação de niilista, apesar de se considerar um romântico. Para além do Fight Club, também já foram vendidos os direitos de adaptação ao cinema de Invisible Monsters, Diary e Choke (este está quase a sair). Em 2004 a revista Playboy publicou um conto seu intitulado Guts, este conto faz parte do seu último livro Haunted. O conto tem cerca de 6 páginas onde são narradas 3 histórias. Para não maçar (como se fosse possível), antes, para não parecer tão grande e não lerem, vou dividir em 3. Olhem que vale a pena.

Tripas

Uma história da autoria de São Livre-de-tripas

Inspira
Inspira tanto ar quanto conseguires
Esta história deve durar mais ou menos o mesmo tempo que tu consegues aguentar a suster a respiração, e aí um pouco mais. Portanto ouve o mais rápido que conseguires.
Um amigo meu, quando tinha treze anos ouviu falar de “pegging”. Isto é quando um um gajo enfia um dildo no rabo. Estimula a próstata com força suficiente e o rumor é que consegues ter orgasmos explosivos em mãos-livres. Nesta idade este meu amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele tem sempre a necessidade de encontrar uma maneira melhor de bater uma. Ele sai para comprar uma cenoura e vaselina. Para conduzir uma pequena pesquisa privada. Aí ele imagina o que iria parecer, a cenoura e vaselina solitárias a deslizar no tapete rolante da caixa na direcção da empregada do supermercado. Os outros clientes à espera em fila, observando. Todos a verem o grande serão que ele tem planeado.
Então, o meu amigo, compra leite e ovos e açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.
Tipo como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura pelo rabo acima.
Em casa ele apara a cenoura até se tornar numa ferramenta romba. Ele aplica a vaselina abundantemente e enfia a cenoura no rabo. Então—Nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece com excepção da dor.
E então a mãe deste miúdo grita que é hora do jantar. Ela diz para ele descer, imediatamente.
Ele tira a cenoura e guarda aquela coisa escorregadia e nojenta no meio das roupas sujas que estão debaixo da cama.
Depois do jantar ele procura a cenoura e esta desapareceu. Todas as roupas sujas, enquanto ele comia, foram recolhidas pela mãe para as levar para lavar. De maneira nenhuma ela conseguiria não ver a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da sua cozinha, ainda brilhante com lubrificante e mal-cheirosa.
Este amigo meu, ele espera meses debaixo de uma nuvem negra, esperando que os seus pais o confrontem. E eles nunca o fazem. Nunca. Mesmo agora com ele crescido, aquela cenoura invisível paira sobre todos os jantares de Natal, todas as festas de aniversário. Todas as buscas de ovos na Páscoa com os seus filhos, os netos dos seus pais, aquela cenoura fantasma plana sobre todos eles.
Aquela coisa má demais para nomear.
As pessoas em França têm uma expressão: “Espirito das Escadas”. Em francês: Esprit d’Escalier. Siginifica aquele momento quando tu encontras a resposta mas é tarde demais. Imagina que estás numa festa e alguém te insulta. Tens de dizer algo. Então, sob pressão, com todos a ver, tu dizes algo insignificante. Mas no momento em que deixas a festa…
Quando começas a descer a escada, aí—magia. Vem-te à ideia a coisa perfeita que deverias ter dito. A resposta desarmante.
Isso é o Espírito das Escadas.
O problema é que nem os franceses têm uma expressão para as coisas que tu dizes sob pressão. Aquelas coisas estúpidas e desesperadas em que pensas ou fazes.
Algumas acções são baixas demais para terem sequer um nome. Baixas demais para serem faladas.
Olhando para trás, especialistas em psicologia infantil, conselheiros escolares dizem que o ultimo pico em suicídio adolescente aconteceu quando os miúdos tentavam asfixiar enquanto batiam uma. Os seus pais encontravam-nos, uma toalha enrolada à volta do pescoço do miúdo, a toalha atada ao cabide central dos seus roupeiros, os seus filhos mortos. Esperma morto por todo o lado. Claro que os pais limpavam tudo. Vestiam umas calças ao puto. Faziam com que parecesse… melhor. Intencional pelo menos. O tipo habitual de suicídio triste adolescente.

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