terça-feira, 30 de setembro de 2008
Diesel xXx
Tim and Eric
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
LeYa BIS
O grupo Leya lançou uma nova colecção de livros, para ler e reler, com o nome de BIS. Com especial destaque para os autores portugueses traz-nos grandes obras intemporais, a 5,95 euros, com a finalidade de chegar a todo o público, promovendo a cultura e até o coleccionismo, pela dimensão e design dos livros. À venda em livrarias, supermercados, aeroportos e estações de comboio, já se encontram os primeiros 15 títulos que saíram a 15 de Setembro. Os próximos serão lançados em Janeiro, Maio e Setembro de 2009. Aqui está a vídeo promocional da colecção.
Os títulos já editados são:
- Os Cús de Judas, António Lobo Antunes
- A Paixão, Almeida Faria
- A Conjura, José Eduardo Agualusa
- Terra Sonâmbula, Mia Couto
- Budapeste, Chico Buarque de Holanda
- A Salvação de Wang-Fô e Outros Contos Orientais, Marguerite Yourcenar
- Escuta, Zé Ninguém, Wilhelm Reich
- Inês de Portugal, João Aguiar
- Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco
- Sermões, Padre António Vieira
- Alma, Manuel Alegre
- Novos Contos da Montanha, Miguel Torga
- Bichos, Miguel Torga
- A Morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstoi
- Sapho – Costumes de Paris, Alphonse Daudet
Os próximos lançamentos:
- José Saramago, A Jangada de Pedra
- João Ubaldo Ribeiro, A Casa dos Budas Ditosos
- Inês Pedrosa, A Instrução dos Amantes
- José Cardoso Pires, O Delfim
- Pepetela, A Montanha da Água Lilás
- Lídia Jorge, O Cais das Merendas
- Gabriel García Márquez, Crónica de Uma Morte Anunciada
- Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal
- Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela
- Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário
- Germano de Almeida, O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo
- José Gomes Ferreira, As Aventuras de João Sem Medo
- Mário Vargas Llosa, A Festa do Chibo
- Helena Marques, O Último Cais
- Vinícius de Moraes, Antologia Poética
- Trindade Coelho, Os Meus Amores
- Ondjaki, Os da Minha Rua
- Boris Vian, Outono em Pequim
- Alves Redol, Barranco de Cegos
- Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser
- Rodrigo Guedes de Carvalho, A Casa Quieta
- Júlio Verne, O Farol do Fim do Mundo
- Eça de Queirós, Contos
- John le Carré, O Fiel Jardineiro
- Jorge Luís Borges, História Mundial da Infâmia
- António Aleixo, Este Livro Que Vos Deixo
- Franz Kafka, O Processo
- Raul Brandão, Húmus
- Júlio Diniz, Uma Família Inglesa
- Natália Correia, A Madona
- Vladimir Nabokov, Lolita
- José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso
- Tom Sharpe, A Alternativa Wilt
- Maria Velho da Costa, Dores
- Martin Amis, Comboio da Noite
- Mário Cláudio, Amadeo
- Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas
- António Nobre, Só
- Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray
- Álvaro Guerra, Café República
- Charles Dickens, Cântico de Natal
- José Manuel Saraiva, Rosa Brava
domingo, 28 de setembro de 2008
Paul Newman
The Hustler
Cat on a Hot Tin Roof
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Jerry Seinfeld - Parte I
Já nos 80's no Dangerfields
1º Stand-Up na TV, no Tonight Show do Johnny Carson
No David Letterman
Estreia na HBO
No HBO on Location, ainda nos 80's
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Michael Moore's Slacking Uprising
Michael Moore tem novo filme. Com as eleições nos Estados Unidos tão próximas não seria de esperar outra coisa. Moore é um conhecido activista político e um documentarista provocador que tem centrado os seus esforços, nos últimos anos, na luta contra Bush. Os filmes mais conhecidos são: Bowling for Columbine (2002) que trata a violência nos Estados Unidos, a cultura do medo, a posse de armas e os interesses políticos por detrás disto, com a tragédia de Columbine como pano de fundo. Este valeu-lhe o Óscar. Fahrenheit 9/11 (2004) sobre o atentado às Torres Gémeas, a administração Bush e as consequentes guerras no Afeganistão e Iraque. Sicko (2007) ataca o sistema de saúde americano que parece mais empenhado no aumento dos lucros que no bem estar da população. Moore é acusado por muitos de extremista e demagogo, mostrando só o que lhe convém, mas não deixa de ser surpreendente e até divertido (um humor bem caustico) ver o homem e o seu cameraman, a interpelar toda a gente em busca de respostas. O novo filme chama-se Slacker Uprising e foi exibido no ano passado, no festival de Toronto, com o nome Captain Mike Across America. O filme documenta a viagem que Moore fez no Outono de 2004 pelos campus universitários de 62 cidades enquanto tentava mostrar aos jovens que deviam votar em John Kerry. Depois da exibição em Toronto, levou-o de novo à sala de edição, meteu mais umas partes em que detractores tentam acabar com a sua tour e acrescenta mais alguns momentos cómicos. O mais interessante, comprou os direitos de distribuição que pertenciam à The Weinstein Company e resolveu dedicá-lo aos fãs que o podem sacar de graça na internet, e sem merdas, em SlackerUprising.com. Moore espera conseguir assim, angariar dinheiro para os candidatos, através de projecções organizadas, para além de também pôr cópias à venda por 10 dólares. Moore acredita que as eleições de 2004 foram um prelúdio para o movimento Obama iniciado pelos jovens, fazendo um paralelo com o movimento trabalhista de há 70 anos.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Manoel de Oliveira
Comissariado: João Bénard da Costa / João Fernandes
Produção: Fundação de Serralves
> 24 JUL (Qui), 18h30, por João Bénard da Costa e João Fernandes
> 09 SET (Ter), 18h30, por João Fernandes
> 25 SET (Qui), 18h30, por Eduardo Paz Barroso
> 05 OUT (Dom), 18h30, por Luís Miguel Cintra
> 14 OUT (Ter), 18h30, por António Preto
> Visitas diárias, mediante marcação prévia.
De 7 a 10 de Outubro, entre as 18:30 e as 21:00, vai decorrer um seminário coordenado por António Preto, mestre em Teorias da Arte na FBAUL, intitulado "Manoel de Oliveira: Moderno Paradoxal". O seminário, "propõe uma revisão crítica do cinema de Manoel de Oliveira, procurando analisar os mais importantes elementos formais, conceptuais e temáticos que estruturam a sua obra, fazendo emergir, por um lado, algumas das configurações mais características da estética do autor e evidenciando, por outro, o modo como a sua produção cinematográfica dialoga com o contexto histórico em que intervém".
Como complemento, sobre a exposição, deixo aqui o artigo da Sílvia Guerra, do Artecapital:
Sagração e sacrifício
Existe o tempo e as palavras que repetidas nos interpelam para a vida na obra cinematográfica de Manoel de Oliveira. O Tempo no seu sentido de início do mundo, o in illo tempore, materializado em àrvores seculares como a do belíssimo plano longo de Non, ou a Vã Glória de Mandar (1990), ou as àrvores do Maranhão e da Baía, em Palavra e Utopia (2000). É o tempo que traz um cheiro a terra e a calor, sonho português em África ou no Brasil. Depois existe o tempo do sacrifício na imagem do eterno retorno de D. Sebastião, mão que sangra contra a lâmina da sua espada, voluntariamente, num acto de sagração (Non, ou a Vã Glória... ). Esta imagem retrata séculos de masoquismo nacional e fixa-se na memória, e continuo a acreditar que é no inconsciente individual e colectivo que o cinema vive e cria a(s) nossa(s) história(s).As palavras podem ser:
- A mão!
- A caixa!
- Acudam!
Vocábulos simples que servem para nos reconduzir à vida dentro e fora do seu universo ficcional, num mundo falado.
Este autor que percorreu o século do cinema permanece ainda hoje como o amado e mal-amado do público português, basta verificar os tempos curtos de exibição dos seus filmes nas salas nacionais. Conhecido pelos tempos longos do seu cinema, é no Porto, sua terra natal que encontramos a primeira celebração do seu centenário, comemorado este ano com a exposição que lhe é dedicada no Museu de Serralves. Curada em parceria por João Fernandes e João Bénard da Costa (Director da Cinemateca Portuguesa e também actor nos filmes de Oliveira), esta exposição visa “levar a conhecer a todos os públicos a obra cinematográfica de Manoel de Oliveira”. A promessa é ambiciosa e esta é a primeira vez que uma instituição museológica portuguesa se confronta com um património cinematográfico de um autor vivo, com uma produção cinematográfica de mais de 40 filmes.
Assisti à apresentação para a imprensa da exposição onde estão presentes o cineasta e os dois comissários e constatei a lucidez e o humor caústico do autor nas respostas aos jornalistas.
“P - Como é a sua relação com a morte?
M.O. – Ainda não experimentei.”
Este é o Porto da sua infância e é difícil que seja pequena a nossa expectativa. A visita é guiada por João Fernandes, Director do Museu de Serralves, que salienta não se tratar de uma mostra documental da carreira de Oliveira mas de uma escolha de excertos de filmes que convidam o público a ver os mesmos. Na sala frontal de entrada nas exposições do Museu apresenta-se Douro, faina fluvial (1931), o único filme apresentado na íntegra, numa montagem feita em 1994 com a banda sonora “Litanie du feu et de la mer” de Emanuel Nunes. Nas nossas costas exibem-se, em duas projecções de dimensões mais pequenas, Berlim, Sinfonia de uma cidade (1927) de Walther Ruthmann e O homem da câmara de filmar de Dziga Vertov (1929).
Esta sala serviria por si só como uma homenagem a um século de cinema pelas mãos de três dos seus pioneiros. A exposição prossegue com uma galeria de retratos dos homens, mulheres e crianças que, sem terem sido actores, viveram as histórias de Manoel de Oliveira, interpretando alguns dos seus filmes; este é um dos aspectos realçados nesta escolha curatorial, a ficção dentro do real ou a relação entre o documentário e a ficção.
Esta é também uma das questões que tem sido debatida desde há mais de 50 anos no mundo da crítica cinematográfica mas que assume inesperadamente uma urgência no mundo da crítica de arte contemporânea, glosada por Jacques Rancière na Artforum Magazine americana ou por Mark Nash em “Reality in the age of aesthetics”, publicado na revista inglesa Frieze. O motivo deste súbito interesse deve-se talvez ao facto de neste momento a videoarte cruzar esta fronteira, em filmes como Gravesend ( 2007) de Steve McQueen. O cinema teve que ultrapassar o simplismo desta dicotomia antes da videoarte e esta irá seguramente encontrar outras formas de resposta à questão.
São mostrados excertos de Famalicão (1939), O Pintor e a Cidade (1956), O Pão (1959) e A Caça (1963) com os seus dois finais, o censurado e o aprovado pelo regime de Salazar. A direcção de actores de Manoel de Oliveira pode ser livre, como ele declara, dizendo que deixa os seus actores viver e não representar os seus personagens, mas a sua découpage retém apenas o que a sua narração ficcional determinou. Faltaria uma galeria paralela com os retratos dos actores que permanecem ligados indissoluvelmente ao universo de Oliveira como: Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Miguel Guilherme, Leonor Silveira, Beatriz Batarda entre tantos outros, só para referir os do panteão nacional.
A relação de Oliveira com a pintura, a literatura e o teatro é outro dos aspectos evidenciados nesta exposição, e são mostrados extractos de Acto da Primavera (1963), Benilde, ou a Virgem-Mãe (1975), Passado e Presente (1972). A variedade de registos linguísticos e artísticos foi sempre explorada pelo cineasta. O filme mais popular e talvez o único que tenha chegado a todas as gerações de portugueses, pertencentes a todos os níveis culturais, Aniki Bóbó (1942), é a chave que abre o corredor esquerdo do Museu. O filme é apresentado em duas projecções diferentes (com extractos emblemáticos) e num ângulo do espaço encontra-se uma réplica da boneca da Teresinha do mesmo filme. Nesta parte da exposição o dispositivo sonoro dos diversos ecrãs e projecções simultâneas é explosivo embora não se sinta o silêncio conseguido com as novas colunas de som, tipo tapete voador, que restringem o som a uma pequena área sobre a cabeça dos visitantes. Os filmes começam a ser disparados em diversos ecrãs e descendo a rampa deparamos com alguns curiosos engenhos de cenegrafia de exposição como o olho-óculo que nos permite ver à semelhança de um buraco de fechadura cenas de Amor de Perdição (1979).
Ao fundo deste corredor os Canibais (1988) assombra-nos numa projecção gigante. Surgem depois as cabanas de projecção numa estrutura cenográfica em madeira onde podemos ver alguns excertos de filmes reagrupados de novo por diversas temáticas. A exposição termina neste andar do Museu não prosseguindo como eu esperava no andar inferior. Mas resta salientar que será apresentado um ciclo com todos os filmes deste autor no auditório do Museu durante o mês de Setembro.
Manoel de Oliveira não é um cineasta nacional-nacionalista pois a sua relação de amor com o cinema e seus realizadores foi sempre aberta e internacional. Os seus guerreiros de “Non, ou a Vã Glória...” namoram os de Ran (1985) de Kurosawa, a sua Belle Toujours (2006) não desmistifica, antes pelo contrário adensa de contradições a teia de Buñuel, a sua Ema em Vale Abraão descobre os prazeres primordiais numa nascente literária partilhada por Balzac e Agustina Bessa-Luís. Manoel de Oliveira personifica no seu cinema o espírito europeu (basta ver a utopia do seu Filme Falado) que dificilmente é atingido de uma forma tão natural e democrática na política ou na sociedade.
Este autor que nunca fez filmes declaradamente políticos exprimiu a liberdade democrática em toda a sua obra, abordando como nenhum outro cineasta português a temática deste país como uma construção linguística, cultural e política desde o tempo das Descobertas (em termos muito diferentes de Teixeira de Pascoais, na Arte de ser português). Ver O Quinto Império- Ontem como hoje (2004) é um exercício cívico para qualquer português, uma necessidade política, mais profícua do que assistir a um debate de campanha eleitoral. Mas permanece um mistério difícil de desvendar na sua obra cinematográfica. O seu cinema é difícil de ser apreendido pois é sempre uma surpresa ouvir uma Ave Maria de Schubert tocada em guitarra portuguesa numa tasca em Alfama.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Charlie Kaufman e o Synecdoche, New York
domingo, 21 de setembro de 2008
A Silver Mt. Zion
Stumble Then Rise On Some Awkward Morning
sábado, 20 de setembro de 2008
Jimmy Floyd Hasselbaink
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Guts - III
Depois disso havia mais mergulho, para apanhar o esperma todo. Para o apanhar e limpar cada mão cheia numa toalha. É por isso que é chamado Mergulho às Pérolas. Mesmo com o cloro havia a minha irmã para me preocupar. Ou, deus-todo-poderoso, a minha mãe.
Costumava ser o meu maior medo: a minha irmã adolescente e virgem, a pensar que estava só a engordar e depois dar à luz um bebe atrasado com duas cabeças. Ambas as cabeças iguais a mim. Eu, o pai E o tio.
No fim de contas nunca é o que te preocupa que te lixa.
A melhor parte do Mergulho às Pérolas era a entrada do filtro da piscina e a bomba de circulação de água. A melhor parte era ficar nu e sentar-me lá.
Como os franceses diriam: Quem não gosta de ter os seus rabos sugados?
Mesmo assim, num minuto és um miúdo a esgalhar uma no outro nunca mais serás um advogado.
Num minuto, estou sentado no fundo da piscina e o céu está ondulado, azul claro através de dois metros e meio de água acima da minha cabeça. O mundo é silencioso com excepção do bater do coração nos meus ouvidos. Os meus calções de banho com riscas amarelas estão amarrados ao meu pescoço por segurança em caso de que um amigo, um vizinho, quem quer que seja apareça a perguntar porque é que faltei ao treino de futebol. A sucção contínua da entrada de água do filtro da piscina agita-se e eu ajusto o meu cu pálido e escanzelado à volta dessa sensação.
Num minuto, eu tenho ar que chegue e a minha pila na mão. Os meus pais estão a trabalhar e a minha irmã tem ballet. Ninguém é suposto chegar num espaço de horas.
A minha mão leva-me quase até ao fim e eu paro. Nado até cima para voltar a inspirar. Mergulho e acomodo-me no fundo.
Faço isto outra e outra vez.
Deve ser por isto que as miúdas se querem sentar na tua cara. A sucção é como dar uma cagadela que nunca acaba. A minha pila está dura e o meu cu a ser sugado, não preciso de ar. O bater do meu coração nos ouvidos, fico debaixo de água até estrelas brilhantes de luz se formem à volta dos meus olhos. As minhas pernas esticadas, a parte de trás de cada joelho assentes no fundo da piscina. Os meus dedos dos pés estão a ficar azuis, os dedos dos pés e das mãos enrugados de estarem na água há tanto tempo.
E então deixo que aconteça. Os pingos brancos começam a jorrar. As pérolas.
É nesse momento que preciso de algum ar. Mas quando me tento impulsionar usando o fundo da piscina, não consigo. Não consigo por os meus pés debaixo de mim. O meu cu está preso.
Os paramédicos dizem que todos os anos 150 pessoas ficam presas desta forma, sugadas pela bomba de circulação de água. Deixa que o teu cabelo comprido se prenda, ou o teu rabo e vais-te afogar. Todos os anos acontece a montes de pessoas. A maioria na Florida.
As pessoas simplesmente não falam disso. Nem mesmo os franceses falam acerca de TUDO.
Levanto um joelho, aninhando um pé debaixo de mim, fico meio levantado quando sinto um puxão no meu rabo. Metendo o outro pé debaixo de mim impulsiono-me na direcção do topo. Estou a mexer as pernas, não toco no chão mas também não estou a ficar mais perto do ar.
Ainda a pontapear a água, dando grandes braçadas com os dois braços, estou talvez a meio da viagem mas não vou mais longe. O bater do coração dentro da minha cabeça fica mais rápido e soa mais alto.As faíscas brilhantes de luz cruzam os meus olhos, eu olho para trás… mas não faz qualquer sentido. Uma corda grossa, uma espécie de cobra, branco azulada com veias entrelaçadas, surgiu do cano do filtro e agarrou-se ao meu rabo. Algumas das veias estão a verter sangue, sangue vermelho que debaixo de água parece preto e surge de pequenos cortes na superfície da pele pálida da cobra. O sangue desaparece dentro de água e no interior da pele fina branco azulada conseguem-se ver altos de restos de refeições por digerir.
É a única forma em que isto faz sentido. Um monstro marinho horrível, uma serpente marinha, algo que nunca viu a luz do dia, esteve-se a esconder no fundo escuro do filtro da piscina, à espera para me comer.
Então… Eu pontapeio-a toda ela feita de pele fina, elástica, escorregadia e cheia de veias. E parece que mais um pouco deste animal se solta do fundo da piscina. Deve ter mais ou menos o tamanho da minha perna mas mesmo assim está bem apertado no meu rabo. Com outro pontapé fico a um centímetro do ar fresco. Ainda a sentir a cobra apertada no meu rabo, estou um centímetro mais perto da liberdade.
Apertado dentro da cobra podes ver milho e amendoins. Consegues ver uma grande bola laranja brilhante. É o tipo de vitamina em dose cavalar que o meu pai me obriga a tomar para me ajudar a ganhar peso. Para conseguir um bolsa de estudos de futebol. Com ferro e ácidos gordos ómega-3.
É ver essa pastilha que me salva a vida.
Não é uma cobra. É o meu intestino grosso, o meu cólon arrancado de mim. O que os médicos chamam de “protuberante”. São as minhas tripas que foram sugadas para dentro do cano.
Os paramédicos dir-te-ão que a bomba de uma piscina puxa 300 litros de água por minuto. São mais ou menos 40 quilos de pressão. O grande problema é que estamos todos ligados por dentro. O teu rabo é só o fim longínquo da tua boca. Se eu me deixar ir a bomba continua a funcionar e puxa as minhas entranhas até chegar à minha língua. Imagina expulsar um cagalhão com 40 quilos e aí vês como isto consegue mesmo virar-te do avesso.
O que te posso dizer é que as tuas tripas não sentem muitas dores. Não da forma como a vossa pele sente dor. À matéria que digeres os médicos chamam de matéria fecal. Mais acima esta o quimo, bolsinhas de uma porcaria fina com pedaços de milho e amendoins e ervilhas.
Esta sopa de sangue e milho, merda e esperma e amendoins, flutuando à minha volta. Mesmo com as minhas tripas fora do meu rabo, eu agarrando o que ainda resta delas, mesmo aí só penso em voltar a vestir os calções de novo.
Deus me livre de os meus pais me verem a pila.
Uma das minhas mãos está em punho fechado à saída do meu rabo, a minha outra mão agarra nos meus calções de banho de riscas amarelas e tiro-os do meu pescoço. Mas ainda é impossível vesti-los.
Se queres sentir os teus intestinos compra uma caixa de preservativos de pele de carneiro. Tira um do pacote e desenrola-o. Enche-o de manteiga de amendoim. Espalha lubrificante e segura-o debaixo de água. Agora tenta rasgá-lo. Tenta parti-lo ao meio. É demasiado resistente e elástico. É tão viscoso que não o consegues agarrar.
Um preservativo de pele de carneiro, não passa de intestino velho.
Agora consegues ver contra o que estou a lutar.
Largas por um segundo e és estripado.
Nadas até à superfície, para respirar, e és estripado.
Não nadas e afogas-te.
É uma escolha entre morrer neste momento ou daqui a um momento.
O que os meus pais vão encontrar depois do trabalho é este grande feto nu, enrolado em si próprio. Flutuando na água enevoada da sua piscina nas traseiras. Agarrado ao fundo por uma corda grossa de veias e tripas torcidas. O oposto de um miúdo que se enforcou enquanto se masturbava. Este é o bebé que ele trouxeram para casa do hospital há treze anos atrás. Aqui está o miúdo que eles esperavam conseguir uma bolsa de estudos de desporto para tirar um mestrado. Que tomaria conta deles na sua velhice. Aqui estão todos os seus sonhos e esperanças. A flutuar aqui, nu e morto. À sua volta grandes pérolas leitosas de esperma desperdiçado.
Ou isso ou os meus pais encontram-se enrolados numa toalha ensanguentada, caído a meio da piscina e do telefone da cozinha, um pedaço esfarrapado das minhas tripas ainda a sair da perna dos meus calções às riscas amarelas.
O que nem sequer os franceses falam.
Aquele irmão marinheiro mais velho ensinou-nos outra frase fixe.
Uma frase russa. A forma como nós dizemos “ preciso tanto disso como de um olho do cu na cabeça”, os russos dizem “ preciso tanto disso como de dentes no meu olho do cu.”
Mnye etoh nadoh kahk zoobee v zadnetze.
Aquelas historias que ouvimos acerca de animais apanhados numa armadilha e que roem a própria pata para se libertarem, bem, qualquer coiote te dirá que isso é bem melhor do que estar morto.
Porra… mesmo que sejas russo, um dia podes vir a precisar desses dentes.
O que tens de fazer é virar-te. Enganchar o antebraço por detrás do teu joelho e puxar essa perna até à tua cara. Tu mordes e agarras o teu próprio rabo. Ficas sem ar e mastigas através seja do que for para conseguires respirar.
Não é uma coisa que tu queiras dizer a uma rapariga na vossa primeira saída. Não se esperas um beijo de boa noite.
Se eu vos dissesse ao que sabia vocês nunca mais comeriam lulas.
É difícil de dizer o que enojou mais os meus pais: se a forma como me meti em problemas ou a forma como me salvei. Depois do hospital a minha mãe disse, “tu não sabias o que estavas a fazer, querido. Estavas em choque”. E aprendeu a cozinhar ovos escalfados.
Todas aquelas pessoas enojadas ou com pena de mim….
Preciso disso como de dentes no meu olho do cu.
Hoje em dia as pessoas dizem-me sempre que estou magro demais. Pessoas em jantares festivos ficam muito caladas e chateadas quando eu não toco no cozido que cozinharam. Os cozidos matam-me. Presunto assado. Qualquer coisa que passe mais de um par de horas nas minhas entranhas sai ainda comida. Com o feijão verde cozinhado em casa ou pedaços maiores de atum levanto-me e os encontro intocados na sanita.
Depois de terem feito uma remição intestinal radical não digerem a carne por aí além. A maior parte das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu já tenho muita sorte em ter os meus 15 centímetros. Afinal, nunca tive uma bolsa de estudos de desporto. Nunca tirei um mestrado. Ambos os meus amigos, o miúdo da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca engordei um quilo mais do que pesava naquele dia quando tinha 13 anos.
Outro grande problema foi que os meus pais pagaram muito dinheiro pela piscina. No final o meu pai disse ao gajo da limpeza de piscinas que foi um cão a fazer aquilo. O cão da nossa família caiu lá dentro e afogou-se. O corpo foi puxado pelo filtro. Mesmo quando o gajo abriu a caixa do filtro e descobriu um tubo viscoso, um pedaço de intestino escorregadio com uma grande patilha laranja lá dentro, mesmo aí, o meu pai simplesmente disse, “Aquele cão era um maluco do caralho”.
Mesmo da janela do meu quarto, no segundo andar, conseguia ouvir o meu velho a dizer “Não podíamos deixar aquele cão sozinho durante um segundo…”
Nessa altura o período da minha irmã não veio.
Mesmo depois de eles mudarem a água da piscina, depois de venderem a casa e nos termos mudado para outro estado, depois de a minha irmã abortar, mesmo aí os meus pais não mencionaram nada outra vez.
Nunca
É esta a cenoura invisível da minha família.
Agora podes inspirar bem fundo.
É que eu ainda não consegui."
Por Chuck Palahniuk
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Mais 5 Que Aí Vêm
Adrien Brody, Rachel Weisz e Mark Ruffalo numa comédia de Rian Johnson que se estreou e surpreendeu com Brick, e que faz lembrar, a espaços, Wes Anderson na estética e na poética cómica em que envolve as personagens.
The Brothers Bloom
Para os fãs de comics e das adaptações de Frank Miller, com Scarlette johanssen, Eva Mendes e Samuel L. Jackson.
The Spirit
Gus Van Sant de volta, com o grande Sean Penn no papel do primeiro homossexual a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos.
Milk
Tarsem Singh assinou o insuficiente, apesar de auspicioso, The Cell, mas regressa com um drama de aventura e fantasia surpreendente, carregado de acção e surrealismo, tentando convencer os mais cépticos.
The Fall
Um documentário sobre a audácia de Philippe Petit que, ilegalmente, “atavessou” as Torres Gémeas por oito vezes, sobre uma corda, a cerca de 400 metros altura.
Man On Wire