domingo, 19 de outubro de 2008

Duck Soup

Duck Soup faz 75 anos e é uma das grandes comédias da história do cinema. Antes de mais é preciso falar dos seus intervenientes, os Irmãos Marx. Nascidos em Nova York, filhos de emigrantes judeus, cedo mostraram apetência para a música, juntando-se aos seus familiares nos espectáculos de Vaudeville. O seu sentido de humor mordaz e atrevido deu rapidamente nas vistas, tomando cada vez mais peso nos espectáculos burlescos da trupe, os seus sketches cómicos. Chico, Harpo, Groucho, Gummo e Zeppo, eram os cinco irmãos que passaram rapidamente a ser um dos grupos mais queridos nos estádios Unidos a brilhar na Broadway (Gummo que entretanto teve que abandonar, foi substituído por Zeppo que era consideravelmente mais novo que os demais). O sucesso que o seu bizarro humor lhes conferiu, com Groucho na direcção artística e Chico na gerência, catapultou-os para o cinema e televisão. O primeiro contrato com uma grande produtora foi com a Paramount, e pode-se dizer que surgiu em força na sétima arte, o que é justo designar de comédia anarca, em toda a sua plenitude. Os temas predilectos dos 4 irmãos passavam sobretudo por satirizar a alta sociedade e criticar a hipocrisia humana, o que passou na perfeição do palco à tela, principalmente neste primeiro período, na Paramount, onde tinham carta-branca para fazer o quisessem. Surgiram então clássicos da comédia musical, com o icónico Duck Soup à cabeça. Freedonia é um pequeno país que se encontra à beira da bancarrota, e a Mrs. Teasdale (Margaret Dumont) é uma senhora da alta sociedade que está disposta a doar 20 milhões de dólares caso seja apontado como novo presidente, um tal de Rufus T. Firefly (Groucho). Ao contrário do que era esperado, este revela-se um ditador que se recusa a seguir as regras instauradas. Se os trabalhadores querem uma redução de horário, corta-se na hora de almoço. O país vizinho, Sylvania, resolve enviar dois espiões ineptos, Chicolini (Chico) e Pinky (Harpo), para recolher informações, o que aumenta ainda mais o caos em Freedonia. Entretanto o cínico e sarcástico Firefly disputa a mão da Mrs Teasdale com Trentino, o embaixador do país vizinho. Resultado, é declarada guerra entre os dois países. O filme está repleto de gags, da verborreia hilariante de Groucho ao slapstick insano do mudo Harpo. Como a música não podia faltar, temos Harpo e a sua harpa (ao que parece tocava bastantes mais instrumentos e rasgava em todos), o Chico no piano e o Groucho a cantar. Não deixa de ser curioso este filme fazer esta idade tão redonda numa altura em que a conjuntura económica Europeia e Americana se encontra doente e sem vontade de rir. É por isso uma boa altura para revisitar um dos principais filmes dos percursores da comédia no cinema sonoro. Depois de seis filmes na Paramount, Zeppo deixou os outros três, por se sentir à parte e nunca ter papéis relevantes (e tinha toda a razão), e assinaram contrato com a MGM onde fizeram mais cinco, mas foram obrigados a adoptar um formato mais familiar para agradar a todo o público. Os primeiros são bons, mas depois começa o declínio. Ainda se juntaram mais tarde para fazer mais dois ou três filmes e ajudar a pagar as largas dívidas de jogo de Chico. A comédia dos Marx teve obviamente muitos seguidores principalmente no humor denominado de nonsense. Entre os mais conhecidos: Bob Hope e Bing Crosby nos 40, Jerry Lewis e umas quantas comédias megalómanas americanas nos anos 60, nos anos 70 os Monty Python (expoente máximo da comédia anarca moderna), os primeiros filmes do Woody Allen (ele diz-se filho de Groucho), o Mel Brooks, os filmes da National Lampoon's e os do Zucker/Abrahams (Airplane, Top Secret, Hot Shots), mais recentemente, actores como o Jim Carrey ou o Mike Myers , os filmes dos irmãos Farrelly (Dumb & Dumber, There's Something About Mary) ou mesmo dos irmãos Coen (Raising Arizona, The Big Lebowski). O produto parece-me vendido, vou só deixar uma cena clássica do filme: Groucho de camisa de noite e barrete, Chico e Harpo disfarçados de Groucho.




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