"Pretensiosismos à parte, reconheço que tenho falhas. Reconheço também, não as reconhecer como minhas, mas espalhadas pelos outros como retalhos relvados, regados em redor. Quando subi o Gangapurna, vi o cansaço na cara do Jaime, o frio na barba do Beto e o medo nos olhos do Sérgio. Mas ao fim destes anos não as consigo sentir. Não me consigo lembrar a que sabiam. O invólucro está vazio porque resolvi emprestar a tampa. Tampas há muitas, seu palerma! Diz um gajo que fala com candeeiros na rua… Barbas de molho, coentros na mesa do rei, um pássaro na mão ou duas no soutien? Daqui a nada começa a tratar-me por Evaristo. Tenho disso, tenho! Podes levar! Talvez o problema seja dar sem receber. Aí está uma falha que não vejo nos outros. Toma lá, dá cá. Não sei em que altura se passa ao campo do interesse. Sim é bonito… mas preferia outra coisa. Ok… não havia mais nada? É Linda… mas o Martim gosta mais de pólos… Jóia!... Cumé? Bam’ bora? O people curtiu… apesar de ser uma semente do corporativismo. Cromo… Se é difícil vermos todos da mesma maneira, porque é que tentamos parecer tão iguais? Conheci um puto que consumia duas doses de anarquia por semana para conseguir sair do quarto e ir até ao parque. Como dizia o Abel, os extremos tocam-se, mas duma maneira “não-sexual”. Acabou mal esse puto. Eremita num dia, sociopata no outro. Numa manhã em que ia manifestar-se contra o excesso de zelo das unidades anti-choque foi apanhado pelo Baba Ram Dass à saída do McDonalds. Passou dez anos numa casa de chocolate, conheceu o Ptolomeu, o Gandhi, o Duke Ellington, o Fernão Mendes Pinto, o Frank Zappa, o Frank Capra, o Franz Kafka, o Darth Vader e o Feiticeiro de Oz, adorava conhecer a Carole Lombard, mas o Clark não lhe dava espaço. Quando pensava ter-se libertado da sua mente libertária, só sentiu sossego na cabana em Montes Altos, apanhou bastantes frutos, comeu bastantes ervas, matou um casal e uma miúda de sete anos, com um pau que havia aguçado há uns dias, e virou Solange na prisão, até que a morte os separe. Lá interessante foi. Recebeu o que não queria depois de dar o que não devia. Pretensiosismos à parte, há alturas em que mais vale deixar o frasco ao ar e continuar a regar."
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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