domingo, 24 de fevereiro de 2008

Milan Kundera

Inicio aqui mais uma secção a falar de um dos maiores escritores contemporâneos, Milan Kundera, e da sua obra mais conhecida, "A Insustentável Leveza do Ser". Kundera nasceu a 1 de Abril de 1929 em Brno, na Checoslováquia, no seio de uma família erudita de classe média. Aprendeu a tocar piano e estudou musicologia, por influência do pai, até completar o secundário, altura em que entrou na Faculdade de Artes, onde estudou literatura e estética, transferindo-se depois para o curso de cinema da Academia de Artes Performativas de Praga. Kundera, que fazia parte do partido comunista Checo, foi por várias vezes acusado de praticar actividades anti-partidárias, tendo, por mais que uma vez, sido expulso e readmitido, juntamente com outros artistas Checos, vivendo por dentro a Primavera de Praga de 1968. Em Agosto do mesmo ano, assistiu-se à ocupação da Checoslováquia pelo comunismo soviético, altura em que foi adicionado à lista negra do partido e em que as suas obras foram automaticamente proibidas. Kundera tentou, com alguns amigos, acalmar a população e lutar contra o regime totalitarista, mas desistiu em 1975, altura em que se mudou para França, tendo-se tornado, cinco anos mais tarde, cidadão francês. O seu primeiro livro foi editado em 1967 com o nome de "A Brincadeira" e entre as suas obras mais conhecidas encontramos: "O Livro do Riso e do Esquecimento" de 1978, "A Imortalidade" de 1990, "A Lentidão" de 1993, "A Identidade" de 1998, "A Ignorância" de 2000 e o célebre "A Insustentável Leveza do Ser" de 1984. Os livros de Kundera têm, usualmente, uma elevada carga política e filosófica sendo este último um excelente exemplo. O romance conta-nos a história de Tomaz, Tereza, Sabina e Franz, as suas aventuras amorosas, os seus desgostos e a procura da felicidade, numa época conturbada para o seu país, como foi o ano de 68. Descreve a tensão politica que se vivia durante a ocupação, fala-nos do país, dos ideais, do comunismo russo, do kitsch, do amor, do sexo, do prazer, do sofrimento, do leve, do pesado, da compaixão, fala-nos de “personagens reais” que viveram esta história, que nos envolve ao longo de duas décadas das suas vidas, e nos transporta até Praga, Viena e Zurique. Kundera tem como característica narrativa, o facto de sair da história e nos por a pensar com ele sobre a própria história. O romance também habita o campo da psicologia e da filosofia, dando uma complexidade quase inebriante a cada personagem que nos transporta às mais variadas problemáticas, desde a dualidade leveza/peso de Parménides, ao eterno retorno de Nietzche. Fala-nos do destino e da liberdade, da impossibilidade de voltar a viver o vivido, ou mesmo de viver por inteiro. Trata-se de uma obra indispensável, de um autor incontornável, e de um autêntico clássico da literatura contemporânea.

Nota - 5/5

Curiosidade: O grande sucesso que o livro adquiriu, despertou o interesse da 7ª arte, e em 1988 estreou o filme com o mesmo nome, realizado por Phillip Kaufmann, com Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche nos principais papéis (Tomaz e Tereza). Apesar de ter feito algum sucesso, sendo inclusivamente nomeado para os Óscares de melhor argumento e melhor fotografia, Milan Kundera proibiu, a partir de então, a adaptação cinematográfica dos seus outros livros.

4 comentários:

João Afonso disse...

Tendo em conta que nenhum filme se torna melhor que o livro que lhe deu origem (haverá algum filme melhor que o livro?), acho uma proibição bem lógica.
Vai buscar.

Anônimo disse...

Para ti João:
O filme Clockwork Orange do Kubrick é melhor que o livro do Anthony Burgess, apesar de este ser muito bom. No entanto o filme é fantástico.

João Afonso disse...

Eu não me recordo de, no geral, um filme ser melhor que o livro correspondente. No entanto não duvido que haja um ou outro... De qualquer forma, salvo melhor opinião, a proporção de livros melhor que filmes deve ser MUITO alta.

Victor disse...

Já se tornou lugar comum exaltar o texto do Kundera e desprezar o filme do Kaufmann. Esquece-se, neste momento, que a literatura desse velho tcheco louco é amplamente considerada "excessivamente densa", uma prosa "seca", que não apela à imaginação e fere o entendimento.

Eu sou completamente obcecado pelo estilo narrativo e pela inteligência de Kundera, mas não acho que o filme cometa muitos pecados ao romance. Pelo contrário: não consigo imaginar uma adaptação MELHOR. Desde a perfeita escolha dos atores até as lacunas que o romance não pode preencher no cinema, o trabalho do Kaufmann à frente dessa película é genial.